domingo, 9 de agosto de 2020

Deuses Ateus

Uma autobiografia é um olhar através da janela do tempo, que só pode ser contada em um futuro, que se torna presente a cada letra que exprimo. Não usarei mais esse texto para insultá-los. Ao menos não é o meu propósito aqui. É que... é árduo, tu sabes, sou aquele crítico amargo e que adora escrever frases desconexas que com o tino certo tu encontras nexo e me detesta. É nítido que sempre amei a liberdade que encontro em meus textos, quase posso dizer o que quero - se não fosse a hipocrisia universal em que a bolha "humanoide" se permeia.


A idéia é todos os dias construir degraus para que minha filha esteja sempre olhando pra cima no intuito de me alcançar. Ela é uma deusa atéia, assim como eu, pois em algum momento se questionará e é inevitável duvidar de si. Fora após uma epifania como essa que uma deusa grega passou por metamorfoses e só então sentou-se à direita de Zeus no alto Olímpio. Antenas ligadas para compreender essa fala, Atenas não mais fala, ela grita! E você ainda permanece inerte pela vida. 


A consistência é algo que sempre busquei, tenho problema com isso, as pessoas notam: uma hora aqui outra acolá, e no fundo me sentido como se em areia movediça, quanto mais me mexo, mais me afundo e acabo tendo que lamber minhas próprias feridas dentro desse rio sujo. No fundo só encontro mais do mesmo, entulho em cima de entulho, uma confusão sem igual, sempre falta algo. Eu nunca caibo em nenhum lugar.


Uma nova posição no empregos, uma nova graduação, uma nova especialização, séries/filmes, pílulas, drogas, bebidas, comidas, lugares, paixões, amores e etc.. São tudo um monte do mesmo! Estar ocupado 18/24 e fingir que estamos conscientes enquanto nosso tempo, ou melhor, nossa vida se esvai pelas frestas de nossos dedos. E a ratoeira perdeu o significado de medo.


 Como disse em outra conversa, tenho enxergado como o Universo (ou o que seja), tem sempre conspirando ao meu favor. Tem horas que não são eventos compreensíveis, no entanto são esses que de alguma forma desencadeiam momentos que posteriormente me fazem feliz. Sorte/acaso não conseguem definir a magnitude disso. E uma vez visto o zoom out tu podes compreender o quê digo. Exagero? É a definição que tem mais me abrasado, consumido e agradado. Só quero se for exagero. Quero tudo, se acostume! Pois nasci pra ser inteiro.


Uma autobiografia tem o intuito de aproximar o autor do interlocutor, e não vou findar esse texto sem lhe dá esse sabor. Prometi desde o iniciar e não terei pudor... Melhor! Siga-me e compreenderá: as palavras são para a comunicação dos "homens civilizados", no entanto, mesmo com milhares de idiomas, incontáveis alfabetos, inimagináveis letras, ainda sim não tem autonomia para descrever uma sensação. Eis que ainda sim você é mais um que ousa perguntar, quem é você Jean? Que por minha vez respondo no meio da cacofonia aqui dentro: "legião, porque somos muitos".




4 comentários:

  1. Bela definição. Um pouco diferente mas interessante , queria Eu conhecer os muitos!

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    1. Grato!
      Se foi diferente creio ter cumprido boa parte do objetivo aqui, e quanto a conhecer os "eus" penso que é uma ambição de todos nós.

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  2. Otimo texto,até me vi em algumas palavras.
    Acho que que todos somos muitos em um corpo limitado, não seria bom se identificassemos (ou chegasse próximo) no nosso vários "eu", o que tira o melhor de nós e nos trás mais momentos felizes e pontencializasse isso? Na dúvida dos porquê existencial, só me resta adaptar enquanto não vem a resposta ou o fim. Porque sim a vida é cheia de mais do mesmo.

    Abraço .

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    1. Fico feliz que tenha gostado e se identificado! Seria deveras interessante conseguir essa proeza...
      Pois é, quer um ser mais adaptável do que a espécie humana?!

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