terça-feira, 25 de outubro de 2016

Carta sobre a felicidade (à Meneceu)

 Epicuro envia suas saudações a Meneceu.

  "Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz. Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando esta presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la. Pratica e cultiva então aqueles ensinamentos que sempre te transmiti, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma vida feliz.
  Em primeiro lugar, considerando a divindade como um ente imortal e bem-aventurado, como sugere a percepção comum de divindade, não atribuas a ela nada que seja incompatível com a sua imortalidade, nem inadequado à sua bem-aventurança; pensa a respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe felicidade e imortalidade.
  Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles; já a imagem que deles faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas não costumam preservar a noção que têm dos deuses, ímpio não é quem rejeita os deuses em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos dessa maioria. Com efeito, os juízos do povo a respeito dos deuses não se baseiam em noções inatas, mas em opiniões falsas. Daí a crença de que eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons. Irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só aceitam a convivência com os seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja diferente deles.
  Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efémera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade.
  Não existe nada de terrível na vida para alguém está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo portanto quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera: aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado.
  Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida.
  O sábio, porém, nem desdenha viver, nem teme deixar de viver; para ele, viver não é um fardo e não-viver não é um mal.
  Assim como opta pela comida mais saborosa e não pela mais abundante, do mesmo modo ele colhe os doces frutos de um tempo bem vivido, ainda que breve.
  Quem aconselha o jovem a viver bem e o velho a morrer bem não passa de um tolo, não só pelo que a vida tem de agradável para ambos, mas também porque se deve ter exatamente o mesmo cuidado em honestamente viver e em honestamente morrer. Mas pior ainda é aquele que diz: bom seria não ter nascido, mas, uma vez nascido, transpor o mais depressa possível as portas do Hades.
  Se ele diz isso com plena convicção, por que não se vai desta vida? Pois é livre para fazê-lo, se for esse realmente seu desejo; mas se o disse por brincadeira, foi um frívolo em falar de coisas que brincadeira não admitem.
  Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda a certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais.
  Consideremos também que, dentre os desejos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e outros, apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros, para o bem-estar corporal, outros, ainda, para a própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo.
  Uma vez que tenhamos atingido esse estado, toda a tempestade da alma se aplaca, e o ser vivo, não tendo que ir em busca de algo que lhe falta, nem procurar outra coisa a não ser o bem da alma e do corpo, estará satisfeito. De fato, só sentimos necessidade do prazer quando sofremos pela sua ausência; ao contrário, quando não sofremos, essa necessidade não se faz sentir.
  É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda escolha e toda recusa, e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor.
 Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo. Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser sempre evitadas. Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem.
   Consideramos ainda a auto-suficiência um grande bem; não que devamos nos satisfazer com pouco, mas para nos contentarmos com esse pouco caso não tenhamos o muito, honestamente convencidos de que desfrutam melhor a abundância os que menos dependem dela; tudo o que é natural é fácil de conseguir; difícil é tudo o que é inútil.
  Os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela falta: pão e água produzem o prazer mais profundo quando ingeridos por quem deles necessita.
  Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não luxuoso, portanto, não só é conveniente para a saúde, como ainda proporciona ao homem os meios para enfrentar corajosamente as adversidades da vida: nos períodos em que conseguimos levar uma existência rica, predispõe o nosso ânimo para melhor aproveitá-la, e nos prepara para enfrentar sem temor as vicissitudes da sorte.
 Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como acreditam certas pessoas que ignoram o nosso pensamento, ou não concordam com ele, ou o interpretam erroneamente, mas ao prazer que é ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma. Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes, nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de urna mesa farta que tomam doce uma vida, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos. De todas essas coisas, a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela qual ela é mais preciosa do que a própria filosofia; é dela que originaram todas as demais virtudes; é ela que nos ensina que não existe vida feliz sem prudência, beleza e justiça, e que não existe prudência, beleza e justiça sem felicidade.
  Porque as virtudes estão intimamente ligadas à felicidade, e a felicidade é inseparável delas. Na tua opinião, será que pode existir alguém mais feliz do que o sábio, que tem um juízo reverente acerca dos deuses, que se comporta de modo absolutamente indiferente perante a morte, que bem compreende a finalidade da natureza, que discerne que o bem supremo está nas coisas simples e fáceis de obter, e que o mal supremo ou dura pouco, ou só nos causa sofrimentos leves? Que nega o destino, apresentado por alguns como o senhor de tudo, já que as coisas acontecem ou por necessidade, ou por acaso, ou por vontade nossa; e que a necessidade é incoercível, o acaso, instável, enquanto nossa vontade é livre, razão pela qual nos acompanhara a censura e o louvor?
  Mais vale aceitar o mito dos deuses, do que ser escravo do destino dos naturalistas: o mito pelo menos nos oferece a esperança do perdão dos deuses através das homenagens que lhes prestamos, ao passo que o destino é uma necessidade inexorável.
  Entendendo que a sorte não é uma divindade, como a maioria das pessoas acredita (pois um deus não faz nada ao acaso), nem algo incerto, o sábio não crê que ela proporcione aos homens nenhum bem ou nenhum mal que sejam fundamentais para uma vida feliz, mas, sim, que dela pode surgir o início de grandes bens e de grandes males. A seu ver, é preferível ser desafortunado e sábio, a ser afortunado e tolo; na prática, é melhor que um bom projeto não chegue a bom termo, do que chegue a ter êxito um projeto mau.
  Medita, pois, todas estas coisas e muitas outras a elas congêneres, dia e noite, contigo mesmo e com teus semelhantes, e nunca mais te sentirás perturbado, quer acordado, quer dormindo, mas viverás como um deus entre os homens. Porque não se assemelha absolutamente a um mortal o homem que vive entre bens imortais."

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Nunca é o que parece

A incerteza paira sobre min, porém hoje me sinto estranhamente vivo. A razão desconheço de fato, mas algo mudou e gostaria que continuasse assim. Será que é por eu ter me reencontrado lendo um drama jovem-adulto? De fato, adoro esse tipo de história. Quando se trata da fase juvenil no século XXI, com os protagonistas habitantes da América do Norte ou no território Europeu, desperta em min um certo encanto! A cultura me fascina. Mas aquela incerteza ainda esta lá, tento ignorá-la para que eu possa continuar com vibrações elevadas, parece estar funcionando. Tenho medo que esse "estar vivo" consigo, traga aquela insana vontade.

 Só de pensar sinto meus instintos se aguçarem como se uma fera fosse, como se essa fera tomasse conta de min, desejando saciar sua sede. Admito que amo essa sensação, sinto que estou no controle e compreendo melhor o meu ser. O infortúnio é à legislação que trata pessoas da minha especie como bárbaros, como se nunca houvesse tido desejos semelhantes. Entretanto não executam, com receio dos fatores seguintes segundo as suas leis. Hipócritas, não admitem serem animais, mesmo que racional.

Eu praticamente invejo quem tem tanta certeza de algo. As vezes temos "certeza" que fulano é inofensivo, e creditamos confiança. Até nos depararmos com o seu verdadeiro eu, e percebemos que ele é apenas mais um animal sedento por sangue. O sangue quente entre seus dedos e sua pupila dilatada - efeito da excitocina. Como se pode ter certeza em um mundo de seres incertos? Não o culpo por querer sentir que está vivo... Uma sábia e velha senhora, uma vez proferiu os seguintes dizeres que, guardarei e usarei como guia em minha trajetória: "confie naqueles que buscam a verdade, mas duvide daqueles que dizem que a encontraram." Talvez seja por isso que, simplesmente não consigo desapegar desse "agnosticismo" em relação a praticamente tudo na vida e me simpatizo com maestria com à tal filosofia. Pensamento as vezes benéfico, outrora nem tanto. Minha vó tem o dom de causar essa costumeira sensação de vazio na gente. No entanto, quando à indaguei qual seria o sentido da vida, eis que ela me responde que é viver, contrariando o meu modo de pensar. Forma sutil e complexa de se responder. 

Sinto em dizer que desconheço quem vive, conheço apenas sobreviventes desse mundão. Somos obrigados a pensar igual, a ter padrões, a coibir nossos desejos mais íntimos e a contracenar nesse perfeito mundo regido pelo acaso, mero absurdo. Afinal tudo provém dessa origem. Portanto, somos todos forçados a atuar, deixando de lado o viver. Quando escrevo, faço porque quero, faço porque sinto e sinto porque supostamente estou vivo. Você é a razão na qual eu me sinto vivo, mesmo que perambulando pela morte. Porém devo salientar que, para uma pessoa que não vê graça em nada e consegue encontrar um outro alguém que, apenas por existir, dê sentido para a primeira continuar... É algo extraordinário. Ideia um tanto quanto absurdista. Mais absurdo seria se eu à quisesse tanto em meus braços, mas dispensasse a vontade de ter sua vida/sangue em meu poderio. Devido a lei do homem, volto a afirmar: não vivemos, apenas sobrevivemos na falta do que seria necessário para viver.

Imagino o porque da associação involuntária/inconsciente de histórias juvenis com se sentir vivo, ser jovem é estar próximo do 'viver' propriamente dito. Fase de explorar, desejar, apreciar, refutar, imaginar... 'N' verbos com significados relativos ao próprio prazer, quase um Satanismo real. A pior coisa é ser impedido de seus prazeres. Coisa que o Satanista almeja com tango afinco! É complicado falar sobre o real satanismo nos dias de hoje, alias, sempre foi... Exemplo disso é ocultismo demonizado que foi instituído até mesmo contra Jesus -enquanto em terra. Logo o Messias, o tão falado filho do Deus do amor, causando sua crucificação. Maldita sociedade, ainda alimentam o mesmo pragmatismo.

Hoje em dia, percebo que o mundo em que vivemos é apenas um reflexo do mal-humor de Deus. Pessoas perversas, desequilibradas, lunáticas e esquizofrênicas nos rodeiam. Estou expondo meu ponto de vista, talvez eu seja um, ou o esquizofrênico a qual me refiro, porém não há se quer um ser vivo capaz de dizer que estou a beira do precipício. Não há um alguém a altura de dizer que meus desejos/instintos são malefícios diante a sociedade. E seguindo meu impulso, aproveitando o meu bem estar, continuarei meditando maneiras de te esquartejar com aquele cutelo que compramos juntos. Lembro-me do teu sorriso quando me mostro-o pela primeira vez, e quero ver novamente quando estiver arrancando pedaços de você.

Na companhia do meu teclado e um love metal, fantasio sua morte. Porém com consciência que isso não pode sair do mundo astral. Afinal, devo alimentar meu desejo ou não? Se o deixar ir, minha frustração aumentará e ficarei mal por isso, em contrapartida se eu executar, te executar, terei que arcar com as consequências de uma legislação fajuta. Realidade cruel, e o meus direitos decretados na Constituição de 1988? Penso que podemos fazer tudo que queremos, quando estou nessa vibe, só devo me atentar a maneira correta de fazer, para driblar os Direitos Humanos. - Assim pensou o jovem psicopata, tentando reprimir seus desejos. 

Escravo / Agiota do séc. XXI

Venha que preciso te alertar sobre o real motivo de estarmos aqui. Vários vieram antes de mim, e é possível que após Ele me dar cabo, terão ...