sábado, 17 de novembro de 2018

O complemento




Como pode alguém perfeito errar tanto em criar algo que só lhe dá decepção? E tendo ainda o poder de mudar tudo, se esconde e somente observa a desgraça de todos. É abominável a ideia que Ele exista, me deixa triste e me afronta querer me fazer crer. Porém, como metanóia, devo ser justo ao verdadeiro Deus, sinônimo de perfeição.

Aflito e "espectoso", me abstive e tentei transparecer serenidade. Parecia estar no controle e ter passado por aquela ocasião um zilhão de vezes, como todos aqueles moços verdes, nos quais me percebi devaneando ao fitar os que à vista estavam. Deve ser honroso estar em seus lugares, pena que a frequência no fazer, a torna menos prazerosa e especial a cada dia. Tanto honroso como responsível, não preciso citar o árduo caminho até galgar finalmente o posto.

Médicos, enfermeiros e técnicos todos envolto de suas funções. Sei que peco em não ditar-lhes as especializações, no entanto é complicado que lembre tantos e mais desrespeitoso seria me atrever a esquecer algum. Fora crucial a Sheila Lara, xará da nossa, esperada e impaciente se tornando paciente, que estevesse presente e de uma voz terna me ajudar a acalmar a mãe, que vi duas ou três vezes caminhar pendente pela linha do equilíbrio. Enfermeira-obstetra, lembrar desta em específico é como andar de bicicleta.

Findou-se o trabalho, limpados e medicados, fomos deportados ao quarto ao lado, e após um dia soube-se a necessidade de mais alguns hospitalizados. Nasceu antes da hora, foi requerido supervisão e cuidados, mais um ou dois dias, por ora. Usei os intervalos para ler e escrever. Achei estar em uma boate, prostíbulo ou recebendo passe em uma casa espírita; A luz azul e a quietude do local, interrompida apenas por choros de RN's, me colocou em devaneios.

Quatro camas, quatro cantos, panos brancos, luz azul e um banheiro. Doze pessoas; quatro sob cuidados, quatro preocupados e quatro dormindo mas sempre supervisionados. Cada qual ali por suas particularidades. Uns problemáticos, outros sempre deitados, alguns levantam (acompanhantes) e nós, no primeiro leito do quarto. 

Havia um livro em meio aos meus, ganhei de um amigo meu. Iria jogar fora, achei um cúmulo naquela hora. Reividiquei aquela obra, capa dura, pura literatura e ainda por cima escrita por um brasuca. Aluísio Azevedo, xará de outro grande amigo meu. O carinho que tenho hoje por este estimado livro, me foi descoberto em um momento crucial, como percebe e aqui relato. Adorei conhecer a Dona Olímpia, Dr. Cesar, Palmira, Leandro e seus relatos. 

Por fim, após notáveis nove meses de descontentamento, apesar de não ter querido ter te tido, adorei que tenha aparecido. Quarenta e seis centímetros, "três e poucos quilos", me fez enxergar que as vezes, somente as vezes, algo desprevenido pode sofre uma alquimia e se tornar algo limpo. Não digo o mesmo do todo, ainda me mordo os lábios de ódio, porém te olho e analiso que, sem tudo isso não teria eu te conhecido.

Aluísio Azevedo, que também pairou sobre o leito de minha pequenina, usou das palavras da velha Olímpia para me apontar certos pontos furtivos, nos quais, não sabia apreciar e que com certeza é importante mencionar e memorá. E não encontro outra palavra mais adequada para expressar a perfeição desses passados dias, que não seja Deus. É a única (mantendo meu desdém pela divindade), que expressa o que sinto, em qual me inspiro e hoje exprimo aqui, minha singela e notável forma de contentamento. Entendi contrariado qual me faltava um complemento.

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