Quando era criança, quando comecei a entender o mundo, quando achava conhecer tudo, proferi alguns absurdos. Chás, cafés, viagens, cigarros, cervejas, livros, filmes, estudos, patrimônios, relacionamentos e toda cachaça em vidros caros. Não entendia os mais velhos, tanto para viver e tão pouco porquê ser.
Do prisma de uma criança, muita coisa não faz sentido. É tenso ouvir relatos de sua avó, mãe e pai falando de seus filhos, dizendo que estão perdidos. "Fulano e ciclano só querem saber de beber e fumar, igual loucos..." O que aumenta, cada vez mais, as perguntas na cabeça do pobre menino: "O que é não está perdido, como encontro o quê os demais acharam?".
É um absurdo adultos almejarem ter filhos. Quando "acontece", dado pelas necessidades físicas, já é uma desgraça. Quando planejam, inteligentinhos e "estruturados", catástrofe. Vícios, hábitos e costumes, não importa, só maneiras de se embreagar e suportar outro dia, e mais três doses de qualquer entretenimento no intuito de não perceber à noite. Covardia é achar que trasfere-se o vazio para o novo no mundo. Poder aquisitivo elimina certas noites as claras, o que não diminui são as respostas vagas quando os baixutinhos se dão conta da furada.
Desconsidere a classe social. Qualquer um irá esconder sua ignorância e se esconder atrás de teorias, seja elas científicas ou místicas (dispenso vertentes), tudo lorota para entreter e você, criança, se perder diante tantas invensões humanas. Outros perdidos, tanto quanto seus mentores e guardiões.
A ideia é escolher qual merda quer abusar e se embreagar enquanto espera a vida passar, desejando fortemente que não haja outro estágio depois que este findar. Ou pode fingir que compreendeu o sentido, se comportar como um cretino e apontar o dedo para os outros envoltos em seus vícios. O primeiro, se todos se aprofundarem no grande vazio de si mesmos, logo chegará ao fim dessa proliferação desenfreada. Segundo, o que tens visto até hoje, é escolher o seu "kit fantasioso" e ter esperança que seus filhos não sejam tão odiosos quanto seus genitores.
Quem dera eu pudera dizer, após minhas morte, o que dissera Brás Cubas de Machadinho: "Não tive filhos, não trasmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria." Não tive a astúcia e lealdade comigo. No fim, me pus como o segundo tolo descrito, um hipócrita esperançoso. Não amaldiço-o meu fruto, esta é apenas um reflexo de minha parte burra, apesar de ser singular em sua ternura. Todavia não bendigo meu feito, mesmo trazendo algo belo e ingênuo, não mereço um só gracejo, mereço a forca ou o esquartejamento.
Há alguns séculos, pessoas eram esquartejadas, queimadas, apedrejadas e enforcardas por traição ou deshonra. Hoje, esquartejam o mundo das ideias, queimam a língua em rezas, apedrejam os desiguais e se enforcam a outras pessoas, se matando porque é o certo a se fazer. Porque assim o fizeram crer.
Abri várias portas. Falei, esperniei e expressei-me cansado e a fé morta. Criança é a origem, e o morimbudo destina-se o ser. O porquê de ser: um mito. Os absurdos? Repito. Quando era criança, quando tinha esperança, não entendia que no mundo viver e querer ser, eis aí, o verdadeiro absurdo.