quarta-feira, 28 de maio de 2025

À Deriva no Trigésimo Segundo Inverno

Há tempos não escrevo... Talvez por medo de me encarar nas palavras, talvez por estar tão esgotado que nem isso cabia mais em mim. Mas hoje, após um dia silenciosamente barulhento, senti a necessidade. A urgência de vomitar em letras tudo aquilo que me afoga.

Completei meu trigésimo segundo ciclo de existência. Trinta e dois anos… à deriva.

Não sei quando exatamente a vida perdeu o gosto, nem quando os dias começaram a parecer tão iguais, tão cinzas. Só sei que estou exausto da mesmice. De uma rotina que não pulsa, que não vibra, que apenas repete o ato de sobreviver. Às vezes, penso que talvez essa vida nem valha tanto a pena assim.

E me pergunto:
Por que tudo parece tão ruim, mesmo quando há coisas simples acontecendo?
Por que já não sei sorrir com pouco?
Por que meu coração ainda insiste em sonhar com dias de ouro, mesmo sem saber o caminho até lá?

A verdade é que não faço ideia de como chegar nesse “lá”. Nesse futuro onde as coisas fazem sentido. Onde há amor em volta, leveza nos detalhes, paz no peito. Um futuro que, hoje, parece miragem no deserto — belo, mas inalcançável. Uma ilusão bonita demais pra ser real.

E que droga… dói admitir isso.

Mas no meio desse naufrágio interno, há uma pequena luz.
Ela tem apenas seis anos e carrega nos olhos a única cor que ainda ilumina meus dias.
Minha filha.
Minha pequena razão de ainda estar aqui.

Ela é a única alegria que pulsa firme no meu peito. O único laço que ainda me prende à Terra quando tudo em mim quer desaparecer.

A vida que eu gostaria...
É feita de coisas boas, momentos bons e pessoas boas.
Mas, pensando bem, talvez ela precise ser feita primeiro de coragem.
A coragem de continuar mesmo sem saber o destino.
De tentar mesmo exausto.
De criar sentido onde só há silêncio.

E talvez — só talvez — essa tão desejada energia, esse futuro dourado, comece com o simples ato de não desistir de agora.
De acreditar que algo bom ainda pode nascer mesmo de um terreno devastado.

Porque mesmo à deriva, ainda há mar.
E enquanto houver mar, ainda posso remar.

Devaneios Proibidos

Os acordes dessa orquestra me faz sentir-se embebedar, o coral que por vezes "grita" em harmonia, agrada o paladar desse velho ouv...