Há fissuras incorrigíveis que não nos atrevemos a questionar. Somente com tais inconformidades você se torna inteiro. Incompleto, imperfeito, com defeito. E é através dessa percepção que consigo contemplar o seu segundo eu, no anseio de um dia poder me deliciar com o terceiro, o verdadeiro.
Se não estiver sob uma iluminação perfeita, não basta ser bonito. A sua retina tem que ser capaz de capturar o reflexo da beleza. Aí sim você, por enquanto, será capaz de admirar a luz e terá que se esforçar para enxergar o verdadeiro dono da beleza.
Tudo que quero, é lhe mostrar que estou como um espelho a te esperar, e ficar feliz quando te mostrar. Na ira dos que passaram te deixarei enxergar, o meu lado que ninguém pode apanhar. Se fossemos perfeitos, nossa beleza não quereria um complemento, um alento, para apartar nosso tesão desse tormento.
Vejo-te como um verme. Rasteijando entre minhas frestas, completando minhas juntas e nessa conjectura almejando a plenitude, um lugar sem ataduras. Quando me encontrar, te preencho com meus segredos, trejeitos, desejos. Um verdadeiro afago a essa esdrúxula descompostura.
Se permitir, irei te inundar. Sei que não sabe nadar, mas irei te impulsionar até que sua alma transpasse a superfície, e juntos emergiremos, e nessa noite escura poderemos observar o eclipse se desfazendo. O ápice de nossa essência o Universo poderá se embebedar, se saciar, nos invejar.
Porque nossas fissuras se encaixam. Nos encaixam. E como uma enxurrada, nos arrastam. Chocamos um contra o outro, corpo com corpo, e só irei parar quando me mostrar seu pescoço, o outro lado, o que ainda não deixei roxo.
Há fissuras incorrigíveis que não nos atrevemos a questionar. Somente com tais inconformidades me tornarei inteiro. Incompleto, imperfeito, com defeito. E é através dessa percepção que conseguirá contemplar o meu segundo eu, no anseio de um dia poder se deliciar com o terceiro, o verdadeiro.